sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Mergulhar para Proteger

O mar é inspiração para os pintores e músicos, verso para os poetas, energia para os engenheiros. É sobrevivência para pescadores e resposta para cientistas.” Ary Amarante

Nas últimas décadas, a evolução científica permitiu o entendimento dos ecossistemas marinhos e também facilitou a exploração dos recursos marinhos. O avanço do conhecimento acerca do ambiente marinho nos permite hoje entender que o oceano não é uma fonte infinita de recursos e sua capacidade de se renovar está ameaçada. O ambiente marinho atrai interesses econômicos, mas também seduz pela sua beleza. Nesse contexto, o mergulho autônomo se tornou uma atividade econômica importante que leva seus praticantes a um contato direto com a natureza e por essa razão pode ser considerado um tipo de turismo saudável que pode estar aliado à conservação da natureza.
O turismo de mergulho é permitido em diversos parques marinhos ao redor do mundo e pode inclusive ajudar na conservação de tais regiões através do pagamento de taxas ambientais provendo fundos para a conservação e através da educação ambiental dos visitantes e praticantes do mergulho. Nos Parques Marinhos há normas rígidas sobre onde mergulhar e como se comportar perante a vida marinha.
Segundo o Biólogo e instrutor de mergulho autônomo, Marcelo Rennó Braga, as atividades esportivas e de lazer relacionadas com a natureza têm conquistado muitos adeptos e poucas atividades esportivas levam seus praticantes a um contato tão direto com a natureza quanto o mergulho. O instrutor alerta que, nos cursos de mergulho, o aluno deve aprender técnicas de controle de flutuabilidade, importantes para evitar que o mergulhador levante sedimentos que podem se acumular na superfície de corais e destruí-los. Bons cursos de mergulho devem orientar os futuros mergulhadores a não tocar e manusear espécies marinhas.
Muitas espécies marinhas são criaturas dóceis, atacando apenas em autodefesa. O conhecimento acerca da vida marinha pode alertar para a necessidade da preservação de espécies e desfazer alguns mitos, como o do “Tubarão Assassino”. A maioria das espécies de tubarões é, na verdade, inofensiva para os seres humanos.
Tubarão de Recife Caribenho em Bahamas.
Foto: Arquivo pessoal.














 A maioria dos ferimentos causados por Raias, por exemplo, ocorre quando alguém acidentalmente pisa em uma raia enterrada na areia, fazendo o animal assustado levantar sua cauda. 

Raia em mergulho noturno
em Fernando de Noronha.
Foto: Arquivo pessoal.

Outras criaturas marinhas despertam interesse dos mergulhadores pela beleza e exuberância. O peixe-leão possui glândulas venenosas e é conhecido pelos espinhos dorsais e listras coloridas pelo corpo. São nativos do oceano Indo-Pacífico, mas hoje podem ser encontrados em outras regiões do mundo (Estados Unidos e Caribe) onde foram inseridos de forma acidental. Recentemente, o peixe-leão foi encontrado em Arraial do Cabo (RJ) e especialistas alertam que sua presença em locais onde ele não tem predadores gera uma reprodução muito rápida e causa impactos devastadores no ecossistema marinho

Peixe-leão em Bahamas.
Foto: Arquivo Pessoal


Os pequenos Nudibrânquios são moluscos que apresentam diversas cores e formatos e apesar de pequenos, chamam atenção por sua beleza. São desprovidos de concha e por isso usam compostos tóxicos para se defender dos seus predadores (peixes e caranguejos). A maioria dos nudibrânquios obtém seus compostos tóxicos de defesa através de suas presas, hidrozoários e corais. São seres multicoloridos e as cores chamativas servem de alerta aos predadores, que aprendem mais rapidamente que devem evitar comê-los.

Nudibrânquio Dendrodoris denisoni. 
Foto de Yen-Yi Lee
retirada de: https://www.facebook.com/DivingPhotography

















Apesar dos sinais de exploração dos recursos marinhos, dos impactos ambientais como poluição das águas, práticas de pescas prejudiciais e mudanças globais do clima que ameaçam a sobrevivência dos recifes e das espécies marinhas, ainda é possível mergulhar com inúmeros corais, moluscos, peixes, tartarugas e animais marinhos de todo tipo.
Dependendo da forma que é praticado, o mergulho pode ser uma ferramenta para a educação ambiental. Mergulhar estimula a curiosidade e o conhecimento proporciona a consciência da necessidade de se conservar o ambiente.

 No final das contas, conservaremos apenas o que amamos, amaremos somente o que compreendemos e compreenderemos apenas o que nos ensinam”. - Baba Dioum

Referências consultadas: 
1-Amarante, A. Vida Marinha. Cultura Sub Editora, 2012.
2-Teixeira, V. L. Caracterização do estado da arte em biotecnologia marinha no Brasil. Brasília, DF: Ministério da Saúde : Ministério da Ciência e Tecnologia : Organização Pan-Americana da Saúde--Representação no Brasil, 2010. 
3-http://massaliquida.blogspot.com.br/2012/03/mergulho-e-conservacao-ambiental.html
4-http://g1.globo.com/rj/regiao-dos-lagos/noticia/2014/05/peixe-raro-no-brasil-e-encontrado-no-mar-de-arraial-do-cabo-no-rj.html
5- Junior, O.L. A biodiversidade inexplorada dos nudibrânquios brasileiros. Biologia e Conservação, 2008.


sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O Valor da Biodiversidade


Ao longo das três últimas décadas, muitas definições diferentes de biodiversidade têm sido utilizadas. De um modo geral, Biodiversidade ou Diversidade Biológica são sinônimos referentes a todo tipo de variabilidade presente na vida dos organismos que evoluíram no planeta por milênios e que hoje partilham o planeta conosco seres humanos. Aliás, somos frutos desta.

Fotos: arquivo pessoal de Raquel Rennó Braga


 Quando falamos em Biodiversidade podemos nos referir à variabilidade de organismos vivos presentes dentro de um ecossistema incluindo ecossistemas terrestres, marinhos e outros. É importante ressaltar que nós seres humanos, diretamente e indiretamente, dependemos desta Biodiversidade. O mais importante deste conceito, talvez seja, o fato de que a biodiversidade é essencialmente parte fundamental ou sustentadora de uma série de “serviços ecossistêmicos” fundamentais para a existência e qualidade de vida de nós seres humanos como, por exemplo: manutenção da água limpa, polinizações e garantias de alimentos em longo prazo, pesca, mergulho e outros tipos de lazer, controle de pragas e medicamentos, muitos deles ainda não descobertos. A natureza produziu, ao longo dos milênios de evolução da vida no planeta, e ainda produz a grande maioria dos princípios ativos e medicamentos usados na indústria farmacêutica, passada, atual e futura.

Fotos: arquivo pessoal de Raquel Rennó Braga

Para efeitos de análise, valorização detalhada da Biodiversidade e para a criação de indicadores para medir ou monitorar as tendências, a maneira exata como a biodiversidade é definida, vai influenciar no que é medido e o mais importante em minha visão: como a sociedade reconhece efetivamente e valoriza este conceito e sua essência.  Este reconhecimento e a percepção da importância da Biodiversidade pela sociedade, em especial a biodiversidade marinha, é fundamental, pois:

i)   A biodiversidade está sendo perdida a uma taxa alarmante e jamais vista em eventos naturais de extinção geológica, o que de forma real representa um risco para a prestação de serviços ecossistêmicos.
ii)   A biodiversidade pode ser medida através da utilização de indicadores quantitativos, embora não exista nenhuma abordagem unificada.
iii)  A Convenção da Diversidade Biológica prevê um quadro jurídico global para a ação sobre a biodiversidade que é um instrumento fundamental para promover o desenvolvimento sustentável e enfrentar a perda global de biodiversidade.
iv)   A biodiversidade também sustenta o funcionamento do ecossistema e da prestação de serviços dos ecossistemas. 

Creio que a “Famácia Marinha” é valiosa e mais que isso pode ser um instrumento poderoso que fará com que de forma clara a sociedade em geral perceba o poder da nossa biodiversidade que vai muito além de sua beleza cênica. Neste sentido, o número de substâncias com utilidade para nós humanos e seu valor bioquímico e econômico, podem se tornar instrumentos poderosos da valorização de nossa natureza.

Texto escrito por: Jean Vitule  - LEC- UFPR

Laboratório de Ecologia e Conservação, Departamento de Engenharia Ambiental, Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná, 81531-970, Curitiba, Paraná, Brasil. E-mail:biovitule@gmail.com

Referência utilizadas:
1- Convention on Biological Diversity (1992) Convention on Biological Diversity. Secretariat of the Convention on Biological Diversity, Montreal, Canada
2- Wilson EO (ed) (1988) Biodiversity. National Academy Press, Washington D.C., USA